sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A janela

Ela não sabia o que veria. Só sabia que queria. Debruçou na janela em frente à rua e começou a observar. Passou o homem velho de terno gasto e furado. Passou a moça de guarda-chuva colorido na mão. Passou o guarda, todo galanteador. Passou a mãe de mãos dadas com a pequena mulherzinha, pedacinho do seu ventre. Passou o cãozinho se remexendo para todos que o olhavam. Passou a poeira, o vento. Passou a euforia de esperar em vão. Os olhos cansados. Os braços exaustos por apoiarem a mente tão pesada. Pesada porque guarda tantos pensamentos encharcados de agonia. "Será que eu fui esquecida? Será que me abandonaram no fundo da memória? Tenho medo da memória. Não quero me afogar na escuridão. Levará muito tempo até que eu me ache... Até que eu me ache em você". E o tic-tac incansável continua... Infinitamente. E a saudade não passa. Nunca passou. E ela continuaria numa dúvida sem fim. Porque ele nunca mais se lembraria dela.  

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